Eu sou um porto. Chegadas e partidas são a única certeza da minha vida.
Foi na insuficiência geral das buscas por respostas que me descobri inapto a viver com cabeça e peito livres, sem amarras e excessos. O coração só ganha força quando vive em meio à contradição humana. Seguindo na contramão do que é usual acaba abraçando o que lhe destrói. Isso é exercício de maturidade, de crescimento, ainda que não seja compreendida pelos olhos de quem sofre a crueza dessa verdade. Poucos sabem, mas a lei que rege e dá sentido à tudo está escrita é na alma.
A vida da gente fica mais pobre sempre quando alguém que a gente ama vai embora, e a pior parte de se despedir é ter que fazer isso todos os dias. A dor tem vindo frequentemente como um ladrão na noite. Injusta, perspicaz e silenciosa. Mas vai ser diminuída com o tempo, pela fé e pelo amor. Ninguém morre quando vive no coração de alguém. O corpo vai junto com a presença, restando apenas a saudade e as mais valiosas lembranças. O luto tem que ser vivido de maneira correta, porque dele podemos extrair coisas inimagináveis das quais podem nos salvar pelo resto de nossos dias.
Não consigo medir a intensidade das perdas que tem me acometido. Perda em morte e também perda em vida. O destino das ausências tem me contemplado com doses insuportáveis dessa orfandade que retira o prumo, fecha os olhos e nos lança ao mar aberto. Me tornei capitão e tripulação ao mesmo tempo, sem mapa ou rota alternativa, apenas com o olhar voltado pra cima. A inconstância das coisas me desperta os sentidos, e foi nos ápices dos meus contrários que descobri que vivemos melhores quando conscientes de que estamos sempre perdendo. Uma hora ou outra vai surgir algo ou alguém pra te confundir, pra te fazer pensar na desistência, mas você e seu coração são os únicos que sabem a verdade. Com toda mudança vem o sofrimento, e com ele vem algo que você nem sabia que existia. Jamais esqueça da sua verdade. É a única coisa que você tem de verdade. O resto é mundano, pueril, e não tem valor.
O caminho é escuro. A luz é um lugar.
Eu sou um daqueles que tem uma caneta sempre à procura de mais uma chance de escrever o amor, e ele é simples. Na verdade, é tudo o que realmente temos. Ele nos une, nos faz quem somos, e deixa de ser um peso quando se muda o olhar diante dele. Já não tenho o desconforto dilacerante que a perda causa ao amor, eu o tornei leve e por isso não custa levá-lo comigo seja aonde for. Ele faz parte da minha maior riqueza humana, mesmo não correspondido, e um dos meus maiores medos é morrer com ele assim da maneira mais pura sem ser entregue ao destinatário.
Perdemos algo. Pode ser que não seja nada demais. Pode ser que seja a coisa mais importante do mundo.
Caberá ao nosso amor o eterno ou o não dá. Desprovido de significado, o manobrar do barco não traz resultado e o grito de socorro não encontra resposta. É quando chegamos ao eterno agora: eu, barco desconhecido, sem combustível, destino, nem coordenadas pra voltar, apenas olhando pra cima e pedindo pra não afundar.